Às vezes eu fecho os meus olhos e imagino que, no futuro, meu destino será você. Sem meias palavras, meios amores ou meios caminhos. Haverá um dia em que você simplesmente chegará, lembrando que a casa é sua, e eu vou abrir com essa mesma sensação. Sensação conforto. Sensação de que o espaço foi finalmente preenchido. Até lá, eu vou estar completa, inteira, renovada. Quando você chegar, vai se espantar com tamanha profundidade que agora eu carrego no peito, vai se espantar com todos os labirintos que eu criei, muitos deles foram apenas para tentar perder você aqui dentro. Mas não se perde um grande amor, não se perde uma história bonita que acaba sem fim. É quase como o final de um filme, daqueles que deixam um ponto de interrogação “tá, mas e o que acontece agora?”. Pra isso, existe a segunda parte, parte dois ou, apenas, eu e você novamente.
Olho para você e tenho certeza de que você está bem, está
feliz, assim como eu estou. Mas eu sei que quando a chuva cai do lado de fora
do teu apartamento e molha o concreto, teu coração encharca de lágrimas, eu sei
porque quando chove aqui eu automaticamente começo a cantarolar Marjorie
Estiano, nunca cantei pra você, mas é minha maior lembrança... “Chove lá fora e
eu não tenho mais você, quanta vontade de te ver. Saudade é a tempestade que fecha
o verão, é o último suspiro da paixão...”. E hoje, como você deve ter reparado,
está chovendo.
Outro problema é o seu nome entalado na minha garganta,
ecoando nas minhas cordas vocais. Você não sabe quantas vezes fui chamar alguém
e tive que segurar seu nome pra ele não sair e nem quantas vezes ele foi
gritado dentro do meu quarto. Se soubesse, correria de volta, sem olhar para
trás. Se soubesse, ouviria minha voz sussurrando, palavras que não podem ser
gritadas, ao pé do seu ouvido. Palavras, palavras sempre foram nossa maior
preciosidade, tua voz, meu maior desejo. Foi assim que eu quis você, quando, no
meio de uma multidão, eu ouvi sua voz. Comecei uma busca incessante até
encontrar o dono daquela voz, que mais tarde viria a ser, também, dono do meu
coração.
E hoje, enquanto a chuva cai, eu tento ocupar minha mente
com qualquer coisa, qualquer música ou qualquer pessoa. Faço de tudo para você
não aparecer, mas você aparece, se esvai, vem e volta, nesse jogo incansável. É
quase como se fossemos uma imensa linha costurando um tecido, para cima e para
baixo, costurando um caminho traçado e tortuoso. Não sei porque fiz esta
comparação, mas agora, não encontro nada melhor para nos definir, então, somos
como uma linha. Meu horóscopo não fala mais sobre você, o passado já não é
escrito nas estrelas, as mesmas estrelas que nos acolheram naquela noite fria
da véspera do meu aniversário. Você me sentou em um muro alto e ficamos ali, em
silêncio, admirando a profundidade do olhar um do outro. Você se afogando na
minha escuridão e eu me banhando na tua esperança.
Às vezes eu acho que você não voltaria, mas eu fiquei
sabendo que você andou por perto da minha casa dias atrás, você não se assusta?
Eu me assustei, e como me assustei. Pensar que você nunca mais havia estado tão
perto de mim e teve a coragem e a audácia de andar por perto da minha casa. Eu
estou evitando ao máximo chegar nos seus arredores. Eu não resistiria, eu
choraria um mar, eu correria quilômetros para poder fugir dali. Às vezes eu
acho que você não volta, que cansou dos meus dramas sem fim e do meu coração
sempre confuso, que cansou da minha insegurança e do excesso de
responsabilidades e ideologias que eu criei sobre minhas costas. E se você não
volta, eu continuo meu caminho, buscando coisas e pessoas para preencher os
espaços que vez ou outra aparecem.
O problema, é que às vezes eu fecho os meus olhos e imagino
que, no futuro, meu destino será você. Às vezes, eu acho que você volta.
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