Uma página sempre fica em branco. Nem sempre somos capazes
de preencher todos os espaços que ficam vazios. Escrevemos uma letra, duas,
formamos uma palavra, uma frase, duas
frases, um parágrafo, um texto e um livro, mas sempre há uma palavra que
poderia ser escrita a mais ou até mesmo uma página.
Quando os brancos começam a nos assombrar, ficamos com a
incerteza de que o nosso trabalho final
será realmente bom. Eu, particularmente, sempre tive receio quanto aos brancos.
Agora, por exemplo, fixo meus olhos nas paredes do meu quarto, que agora são
brancas. Brancas porque nelas não me sinto a vontade de preenchê-las, quase
como se aqui não fosse realmente meu.
Minhas paredes estão brancas pois muita história foi escrita fora delas,
toda a minha história foi deixada em outras paredes.
Para muitos, o branco representa paz. Para mim, o branco
representa a inquietação da alma. Minha alma, hoje, está inquieta e quase
branca –que na verdade é a mistura de todas as cores luz- pois nela carrego
tudo o que já vivi. Antes eu tinha coisas escritas em fotos, quadros, paredes e
pinturas, hoje tenho tudo na alma.
Deito a cabeça no travesseiro e minha vida passa pelos meus
olhos. Seria esse o momento da morte? O adormecer tem um pouco disso e o
acordar é o renascer. Todos os dias, renasço branca, não por estar vazia, mas
sim por estar cheia de coisa. Branca pois apesar de tudo, ainda há sempre uma
nova série de palavras para gravar, seja no papel ou nas paredes por aí.
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